domingo, 6 de março de 2011

Escura e úmida

Sob aquele céu estrelado, por vezes meio nublado

Em ruas desconhecidas, algumas sem placas nítidas

Eu andava e sentia o frescor do mato

Fresco e limpo, de perfume molhado

Gerando sensações que eu queria mantidas

Guardadas em molduras como um retrato

Daqueles retratos que não se separa

Que quanto mais velho fica, mais nova a imagem

Que se movimenta e nunca mais para

Que aperta o peito e desperta a engrenagem

De um coração que vive todo acelerado

De um olho que lacrimeja todo inundado

Toda vez que lembro daquela noite ao teu lado.


(composta e musicada)


Tantos anos após

"Eat, drink and love; what can the rest avail us?"
(Come, bebe e ama; de que pode nos valer o resto?)

Lord Byron, Dom Juan

"Nas noites de verão namoro estrelas"

Álvares de Azevedo

Tantos anos após

Tantos momentos a sós

Tantos sonhos entre nós.

Sempre quis te beijar

Sempre quis te abraçar

Sem hora pra acabar

Sob a luz do luar

Sem querer chegar

Na hora de separar.

Tamanha a saudade

Que eu sinto de você

Sentimento que não tem idade

Nem hora pra acontecer.

Nunca duvide, meu amor

Se eu ainda te amo, homem

Você não faz idéia do calor

Que me envolve com teu nome.

Quando olhar para o céu estrelado

Nunca se esqueça da mulher

Que vive há anos do teu lado

Sempre olhe, sempre que puder

Para quem tens amado.



Liquefazendo

Estranhos os dias que passam

Em meio a cadernos amassados

Pela indiferença do tempo corrido.

Instante que sobrevoa a memória

Quase apagada e guardada

Que revela semelhanças

Entre dias nublados e sonolentos.

Sonhos desmancham como espuma

Perfumada e vibrante até o momento

Em que se liquefaz para sempre

Numa finalização silenciosa

Acompanhada por olhos melancólicos

Quando piscam apagando um verso.


Aniversário

No seu aniversário

A beleza dos anos

Passa rápido frente aos seus olhos.

No seu aniversário

A vida parece uma congruência

De sentidos num verso infinito.

No seu aniversário

As flores parecem mais vivas

Das vidas que brotam no jardim.

No seu aniversário

As árvores continuam crescendo

Nascendo e vivendo como sempre foram.

No seu aniversário

Jardins não existem

Pois os terrenos da vida no mundo

São grandes demais para uma única existência.

No seu aniversário

Os pássaros cantam a sua vida

E as vidas que em vidas são vistas



Na música do seu perfume

Na correnteza do seu nome

Desabrocha mais um ano quanto te encontra

No seu aniversário.



Águas

Na chuva eu sou uma sombra

Vagando por territórios estranhos

Correndo por entre as águas

Que escorrem dos meus cabelos

As gotas que acertam em cheio

O fundo dos teus olhos

Confundem minhas lágrimas

Rolando em meio às águas

Da tempestade que escorre

Lavando meus cabelos.

Tão cinza a paisagem

Que levanta do teu rosto

Molhado pelas águas

Que escorrem frias dos meus cabelos

Meus pés gelados andando

Sobre as pedras que escorregam

Tão frias e tão cinzas

Indiferentes à tristeza

Que brota do meu peito

Vou andando nesta rua

Cheia das águas que escorrem

Tão frias e tão cinzas

Perdidas no meio do asfalto rachado

Segue meu coração um tanto cansado

Depois de um dia tão atribulado

Embaixo de um coberto furado

Os carros passando ao meu lado

No asfalto todo alagado.

O coração segue batendo

Não tem jeito, sempre atendo,

Apesar que nem sempre entendo

O motivo de poesias tão compridas

Quase nunca esclarecidas

Quase sempre escondidas.



Passageiro Suspiro

Selada na tristeza do asfalto

Imperando nas horas mortas

Vezes sentindo nada, vezes sentindo tudo,

No passageiro suspiro da vida

Que arrebenta as bocas caladas

Das línguas mortas sem batalha

Amedronta – se a liberdade

Dos infinitos prazeres cravados na memória

Dos absurdos distantes

Além dos muros e das portas lacradas.

Silêncio, nada se fala.



Escuridão

Quando todas as forças convergem

Sonoras e ruidosas para um turbilhão

De imagens que chegam e se perdem

Caladas e vagarosas numa procissão

Os olhos vazios anunciam parados

Todas as dores que seguem perenes

Em uma rotatória de sonhos passados

Quase sem estrelas brilhando entre eles

Mas ainda servindo de palavras

Quase sem força e sem emoção

Rachando saudades não procuradas

Nos momentos de maior escuridão.



Distância

Sexta feira paralela

Na vontade

De entardecer

Sombria

A distância

Que me separa de você

Se eu pudesse te ver

Beijaria

Sua boca

Até amanhecer



Apenas andando

De pessoas

eu sinto saudades

meus olhos de água

Voando

na memória

Correndo

em labirintos

Onde a saída

é uma imagem

Uma fotografia

Envelhecida

Remoçando

Sem margem

Refletia

Apenas andando

Na grande avenida.


Num vidro poluído

Num vidro poluído

Tomado pela fuligem

A paisagem esmorece

Devagarinho.

Parada no trânsito

Sumindo no asfalto

As melhores lembranças

Numa tarde de neblina.

Esfriando o motor

Das engrenagens

Do sonho mais acima

Escrevi no celular

Digitando cada letra

Como se fosse acabar

A tinta da caneta

Como se fosse realizar

Mudança estreita.



sábado, 5 de março de 2011

Urbana e monumental

Agora ninguém passa!

Todos fechados no trânsito.

Cigarrinho gostoso dentro do Fusca...

Ambulância querendo passar,

Buzinas agressivas em sinfonia.

Motos atrevidas despedem – se vaidosas

Motores fervendo sob a luz dos faróis

Passageiros impacientes pedem arrego

Desta malha urbana capitada

Na alma humana destroçada

Sem vínculo sentimental

Só falando coisa e tal

Urbana e monumental.

Civilizada na poeira

Que respiram os pulmões sufocados

Pela gota que é drama

Acende e derrama

A garoa dos faróis.


Passa de bicicleta o felizardo

É o menos estressado!

Estrada dos Alvarengas...

Fica longe, quem agüenta?

Vou até a Pauliceia,

Tão na alma que é ateia

Feliz e sufocado

O habitante de São Bernardo

Conta mais um movimento

Sabendo que poesia eu aguento.